MOVIMENTO NACIONAL DIGA NÃO À LEISHMANIOSE, O CÃO NÃO É NO VILÃO!
LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA NO BRASIL
A Leishmaniose Visceral Canina é uma doença que vem se alastrando pelo Brasil e provocando a morte de milhares de cães. O pior é que mesmo matando os cães de forma indiscriminada o governo brasileiro não consegue deter o seu avanço.
Mas,
O que é Leishmaniose Visceral Canina?
1. É uma doença provocada pelo protozoário Leishmania infantum que além dos cães, afeta também o ser humano e outros mamíferos;
2. A L. infantum é transmitida pela picada de um inseto conhecido como flebotomíneo (mosquito palha) infectado;
3. Os hospedeiros da L. infantum reconhecidos em trabalhos científicos são canídeos silvestres, cão, humanos, gato, gambás, roedores, bovinos, entre outros.
Estas informações básicas deveriam servir como ponto de partida para a construção de uma política de saúde que priorizasse a vida dentro de uma comunidade, zelando pela saúde de todos, inclusive dos animais e do meio ambiente.
Estudos, pesquisas e ações deveriam ser direcionadas para a prevenção da infecção e doença, através do controle dos flebotomíneos, a vacinação dos cães não infectados, o uso de repelentes e o diagnóstico precoce e tratamento dos doentes.
Nem sempre o lógico acontece em nosso país...
Segundo o protocolo do Ministério da Saúde, ao ser notificado um caso de leishmaniose visceral humano, a Vigilância em Saúde deve seguir as seguintes recomendações como medidas de controle da doença:
- Medidas de Controle
- Orientações dirigidas para o diagnóstico precoce e tratamento adequado dos casos humanos.
- Orientações dirigidas ao controle do vetor.
- Orientações dirigidas ao controle do reservatório canino.
Mas ... como o Brasil enfrenta as leishmanioses?
Em nosso país, ao ser constatada a leishmaniose visceral humana, a primeira medida adotada é o recolhimento e extermínio massivo de cães, tanto daqueles que vivem em nas ruas, quanto os domiciliados e semi domiciliados.
Os métodos diagnósticos utilizados para detecção dos animais infectados ou doentes, não são precisos, podendo ocorrer reações cruzadas com outras infecções e doenças comuns aos cães . Exames confirmatórios da presença do protozoário em cães não são realizados, o que significa que o extermínio é realizado em cães infectados, doentes e não infectados ... basta ser cão.
Milhares de cães supostamente infectados são mortos indiscriminadamente por ano nos Centros de Controle de Zoonoses em todo o país e medidas de prevenção não são cogitadas. Limpeza, dedetização, eliminação dos flebótomos, utilização de repelentes e vacinação dos cães contra a doença, são refutados sob argumentos político-financeiros.
Os produtos preventivos como as vacinas e a coleira contendo inseticida (deltametrina 4%), indicada até mesmo pela Organização Mundial de Saúde para o controle da leishmaniose visceral, não são adotadas pelos serviços públicos e, além disso, sofrem taxações de impostos que os encarecem e os tornam inviáveis para grande parte da população.
ACRESCENTARÍAMOS:
A "vilanização "do cão leva a representações falsas e práticas equivocadas sobre a doença, tais como :
- A crença de que há contágio direto a partir dos cães
- A crença de que é necessário "optar"entre ter animais vs. a saúde das crianças
- O aumento do abandono de animais supostamente infectados
- A crença de que, livrando-se dos cães, as pessoas estão a salvo da Leishmaniose, embora os flebótomos sigam no ambiente.
- A matança de animais adultos supostamente infectados e a reposição por animais mais jovens, muitas vezes mais vulneráveis a contrair a doença.
Não existe campanha sistemática de educação em saúde no Brasil e em relação à leishmaniose visceral não existe investimento público em educação e esclarecimento da população sobre as formas de prevenção e controle. Os órgãos públicos se contentam em matar cães, não permitir o tratamento dos animais e sempre alegar questões financeiras para o investimento necessário no controle dessa endemia.
O mundo trata e o Brasil mata, até quando?
Será que somente o Brasil tem razão e os outros países estão errados?
O MOVIMENTO DIGA NÃO À LEISHMANIOSE, O CÃO NÃO É O VILÃO!
DENUNCIA:
O DESAMPARO DA POPULAÇÃO CARENTE E O EXTERMÍNIO INÚTIL DE CÃES, ATESTAM A FALTA DE SERIEDADE E INTERESSE DO PODER PÚBLICO NO COMBATE À LEISHMANIOSE VISCERAL NO BRASIL.
FORMAS PARA PREVENIR E CONTROLAR A LEISHMANIOSE
Medidas contra o mosquito transmissor:
O “Mosquito Palha”, transmissor da Leishmaniose, se reproduz em locais com muita matéria orgânica em decomposição (folhas, frutos caídos, troncos apodrecidos, mata muito densa, lixo
acumulado, fezes de animais) e sai para alimentar-se (picar) ao final do dia e durante à noite.
Portanto, recomenda-se:
- Evitar acúmulo de lixo em casa. Não jogar lixo em terrenos vazios.
- Manter o quintal ou jardim sempre limpo, bem capinado e livre de fezes de cachorro ou fezes de qualquer outro animal ( gatos, suínos, cavalos, galinhas, coelhos, etc ), acúmulo de folhagens e restos de alimentos.
- Usar repelentes ou inseticidas no final da tarde ou cultivar ao redor da casa plantas com ação repelente (Citronela ou Neem).
Medidas para proteger o seu cão:
Vacinar seu animal anualmente com vacinas especificas para Leishmaniose.
Usar coleiras impregnadas com inseticidas (deltametrina a 4%) que devem ser trocadas a cada seis meses ou produtos tópicos “spot on” que devem ser reaplicados mensalmente ou conforme indicação do fabricante.
Colocar telas de malha bem fina no canil ou utilizar plantas com ação repelente (Citronela ou Neem).
Manter o abrigo do seu cão sempre limpo, sem fezes ou restos de alimento.
Evitar sair para passear com o seu cachorro entre o pôr-do-sol e o amanhecer.
PREVENIR É O MELHOR REMÉDIO PARA COMBATER A LEISHMANIOSE VISCERAL.
É PRECISO REPELIR E ELIMINAR O INSETO TRANSMISSOR!
Se você suspeitar que seu animal esteja com Leishmaniose, não tome nenhuma decisão antes de consultar o médico veterinário. Nunca abandone seu animal na rua, pois, se ele estiver doente, permanecerá sendo uma fonte de infecção para o mosquito transmissor e o ciclo de transmissão da doença continuará. É neste momento que seu melhor amigo precisa mais de você.
Existem medidas preventivas que podem ajudar seu cão e sua família.
PROCURE SEMPRE O MÉDICO VETERINÁRIO. ELE LHE DARÁ TODAS AS ORIENTAÇÕES NECESSÁRIAS!
ABAIXO ASSINADO MOBILIZAÇÃO CONTRA O EXTERMÍNIO DE CÃES COM LEISHMANIOSE:
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N15026
Referência:
1-Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral- Ministério da Saúde
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual_leish_visceral2006.pdf
2- Texto revisado pelo Dr. Vítor Márcio Ribeiro, médico veterinário, PhD em parasitologia, especialista em Leishmaniose. Atua em pesquisas nas áreas de leishmaniose visceral canina e felina.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
EXCELENTE ENTREVISTA COM O DR. CARLOS HENRIQUE NERY COSTA
EXCELENTE ENTREVISTA COM O DR. CARLOS HENRIQUE NERY COSTA
A ARCA Brasil ouviu um dos nomes mais respeitados neste tema, Carlos H. Nery Costa, Dr. em Saúde Pública pela Harvard University; ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, professor da UFPI e médico do Governo do Estado do Piauí.
ARCA Brasil - O que o Sr., como autoridade mundial na área das doenças infecciosas, pensa do programa de controle da Leishmaniose Visceral (LV) no Brasil?
Dr. Carlos Costa - Quando foi descoberta a epidemia de leishmaniose no Brasil, em Sobral (CE), nos anos 50, o pesquisador Joaquim Eduardo Alencar, baseado no combate à doença na China, recomendou a eliminação de cães, sem se dar conta que, naquele país, a doença não era apenas zoonótica (presença do animal no ciclo). Ou seja, o controle de lá não podia ser atribuído à retirada dos animais, simplesmente porque, nas áreas hiperendêmicas, a doença não dava em cachorro, só em gente. Portanto, nossa política de controle já começou equivocada. A eliminação de cães não só nunca ficou provada cientificamente como instrumento de saúde pública, como estudos posteriores, comparados com a manutenção dos animais, mostraram nenhuma ou fraca evidência de eficácia, ou ainda, resultados contraditórios.
Então nunca ouve, na verdade, apoio científico para o controle da transmissão baseada nessa prática. A única evidência que temos de estudo observacional, é que o DDT (inseticida Diclorodifeniltricloroetano), e não a eliminação de cães, parece ter funcionado no Ceará, nos anos 50. A questão é que o DDT deixou de ser usado em saúde pública no Brasil em 1998, depois foi banido do país, em 2009, sob alegações, inclusive, ambientais. Nós estamos, literalmente, sem nenhum instrumento de controle. O uso de inseticidas de baixo poder residual, os piretróides, não tem se mostrado eficazes, apesar de faltar estudos analisando o efeito dos inseticidas no controle da LV no Brasil. Conclusão, não há evidência e falta muita ciência.
Há uma demanda por inovações tecnológicas, temos que reinventar o controle da doença, procurar entender melhor as dinâmicas de transmissão, além de matar cachorro, uma atitude relativamente violenta e ineficaz. Não se justifica essa verdadeira obsessão de alguns técnicos do Governo, fugindo ao consenso da comunidade científica. Alguns colegas argentinos estão repetindo a mesma coisa, uma má herança científica que o Brasil está deixando. É como querer ganhar o prêmio Nobel ao contrário, ‘aquilo que não deve ser feito’.
Tem muita gente que ‘jura que funciona’, mesmo sem evidência científica, e por isso vão matando os bichos. Não tenho dúvida nenhuma de dizer, categoricamente, que essa atitude deve ser abandonada o quanto antes, para diminuir a vergonha brasileira.
ARCA - Então o Brasil importou um modelo, que não se aplica ao controle de uma doença zoonótica?
Dr. Carlos Costa - Temos que inovar, em vacinas, criar tecnologias de manuseio ambiental. As pessoas fazem, mas sem saber ao certo se tem algum resultado. Há três ou quatro vacinas surgindo, a gente precisa saber realmente qual a eficácia delas e se tem algum efeito sobre a saúde humana. Tem algum resultado sobre a transmissão entre os cachorros, mas o beneficio para o ser humano ainda não está claro.
ARCA - O Brasil é um dos poucos, se não o único, país onde a política governamental é centrada na eliminação dos cães. O que o Sr. pensa dessa diretriz técnica?
Dr. Carlos Costa - É uma medida sem fundamentação cientifica. Há um acordo sanitário internacional que, em um dos itens, basicamente, impede que as nações estabeleçam políticas públicas sem que haja evidência cientifica. É um regulamento, emanado pela OMS, que as nações devem obedecer diante de pandemias, essas doenças transnacionais. Então, de certa forma, o Brasil também está fora da Lei Sanitária Internacional.
ARCA - No último Worldleish 5, maior encontro mundial sobre a Leishmaniose, houve o debate “Kill or Treat – Which Way Should We (and Dogs) Go?”, com a participação da ARCA Brasil. Quais foram as repercussões e qual a sua impressão pessoal?
Dr. Carlos Costa - O evento foi importante para a confirmação de que há valores em jogo além daqueles exclusivamente científicos. Aquela reunião lotada – não tinha onde colocar tanta gente – mostra como o tema é quente e como a sociedade está ansiosa para se pronunciar. A ARCA Brasil, de certa forma, representou setores da sociedade sensíveis aos direitos à vida e à natureza. Isso foi tocante, com certeza mudou o pensamento de muitos cientistas. Por que isso? Porque a tendência do cientista é seguir a estatística cientifica. Se ela aponta para um lado, a gente vai naquela direção, faz estudos de custo e efetividade, revisões sistemáticas, enfim, as diretrizes para as políticas de saúde pública. Mas quando o conhecimento é ambíguo ou pouco eficaz, como é o caso da eliminação de cães com LV, valores outros passam a prevalecer. Se a comunidade científica tiver a capacidade de perceber que existem consequências do que o governo faz, a alegação “se não matar o cachorro, vão morrer as crianças”, algo sem fundamentação cientifica, perde o sentido. Os cientistas perceberam que a sociedade está acompanhando cada uma das nossas palavras, escritas ou faladas.
Veterinário, você tem o poder de mudar essa história
A decisão do STF e a manifestação do Ministro Joaquim Barbosa respaldam o profissional a assumir seu papel no combate a doença
Em decorrência da polêmica que envolve a legalidade do tratamento de animais infectados por leishmaniose no Brasil, dúvidas persistem entre os médicos veterinários de todo o país. Porém, esse cenário de inseguranças deve ter fim. Recentemente, o Ministro Joaquim Barbosa,, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) que considerou ilegal a Portaria 1426/2008 - que vedava o uso de medicamentos de linha humana para o tratamento de cães com leishmaniose - foi indeferido pelo Ministro Joaquim Barbosa. Portanto, enquanto não sai a decisão definitiva do Judiciário – o que deve demorar -, o veterinário conta com o respaldo da decisão do STF.
A situação em determinadas regiões dopais, especialmente no nordeste, é conflitante. Segundo a Dra. Sonia Farias, de Fortaleza - Ceará, a população cada vez mais busca tratar os cães, embora alguns profissionais da região ainda demonstrem receio nessa conduta. Outro veterinário de Fortaleza, que preferiu não se identificar, diz que o CRMV-CE ameaça abrir processos de ética médica e caçar diplomas de quem trata os animais. “Assim fica difícil”, desabafa o profissional, que ainda alerta ara um perigo adiciona: “As pessoas estão tratando seus cães por conta própria, baseados em dicas de amigos e vizinhos. Pela internet é possível encontrar o nome de medicamentos, quantidades, etc. O veterinário fica de fora, mesmo sendo fundamental a orientação desse profissional para o tratamento”.
Como deve se posicionar o médico nesse cenário? O Dr. Wagner Leão, advogado autor da Ação Civil Pública pela ONG Abrigo dos Bichos (Campo Grande, MS), orienta: “Com a decisão do STF, a mais alta corte do país, o veterinário fica, sim, livre para realizar o tratamento”. E sobre a atual política governamental, complementa: “Analisando o contexto jurídico brasileiro, as convenções internacionais de proteção ambiental e animal, e o direito do livre exercício profissional e de pesquisa do médico veterinário, concluímos que a Portaria e Decreto que determina a eutanásia de cães doentes são ilegais e abusivos”.
http://ocaonaoeovilao.org.br/blog.html
ENTREVISTA COM LUIGI GRADONI
Entrevista com Luigi Gradoni
Um dos maiores especialistas do mundo em LVC fala sobre as políticas nacionais de combate à doença
Luigi Gradoni, do Istituto Superiore di Sanità, Roma/Itália, principal organismo técnico-científico do serviço nacional de saúde desse país, consultor da OMS (Organização Mundial da Saúde) para Leishmaniose e Malária, explica por que o extermínio de cães é ineficaz como método de controle e erradicação da leishmaniose. Autor de inúmeros trabalhos sobre o tema e reconhecida autoridade no assunto, o trabalho de Gradoni é respeitado por técnicos e cientistas.
Confira a seguir entrevista exclusiva do especialista.
ARCA Brasil - Há 50 anos o Brasil gasta recursos preciosos, mata milhares de cães e cada vez mais pessoas morrem devido à leishmaniose. Em sua opinião, qual o maior desafio que o Brasil enfrenta para combater a doença?
Luigi Gradoni - A questão é complexa e alguns pontos ainda são assunto de estudos científicos. É preciso separar em três questões:
1. Gastos públicos: Em minha opinião, é positivo o fato do sistema de saúde pública brasileira investir recursos para um acompanhamento sorológico periódico da população canina em áreas endêmicas para a doença. Isto é importante do ponto de vista epidemiológico e também para avaliar a eficácia das medidas de controle instituídas.
1.2 Matar cães: Esta não é a abordagem no sul da Europa com os cães positivos para Leishmaniose. De acordo com a literatura cientifica, a eutanásia de cães soropositivos tem eficácia limitada no Brasil por duas razões principais: (a) o tempo significativo entre o teste e a remoção dos cães positivo , e (b) o fluxo constante de animais jovens e mais susceptíveis na população canina.
1.3 As pessoas ainda morrem de LV: em minha opinião, esta é uma grave deficiência do sistema público de saúde brasileiro, pelo qual os cães não são responsáveis, definitivamente! No sul da Europa, a cada ano cerca de 800-1000 casos de LV são diagnosticados em humanos. Com exceção de muito poucas mortes de pacientes adultos em situações delicadas de saúde (AIDS, transplantados, estágios finais da cirrose hepática), os pacientes são curados com sucesso em 10-14 dias. Isso porque o sistema primário de cuidados à saúde, especialmente os médicos de família, estão bem informados sobre a doença, A LV é investigada em todos os indivíduos com mais de 10 dias de febre resistentes aos antibióticos. Qualquer caso de LV confirmado é então tratado prontamente com uma droga segura e eficaz (anfotericina B lipossomal).
ARCA Brasil - O Sr. declarou no Congresso WL 5, em maio, que um cão infectado, mas domiciliado e supervisionado por médico veterinário, não representa nenhum perigo à família, mesmo na presença de crianças e idosos. Em nosso país, porém, o Ministério da Saúde afirma o contrário. Qual sua impressão sobre a atual política brasileira centrada na eliminação dos cães?
Luigi Gradoni - Aos milhares de cães sacrificados a cada ano deve-se incluir um elevado número de “cães expostos”, que não são responsáveis de forma alguma pela transmissão de LV. “Cães expostos” foram definidos como aqueles que exibem reações sorológicas positivas (por exposição a picadas de mosquitos flebótomos infectadas), em que, no entanto, a infecção por parasita não pode ser documentada, quer por microscópio ou técnicas moleculares. Provavelmente, estes cães são altamente resistentes à infecção e não representam um reservatório ativo. No que se refere ao perigo imediato de cães infectados aos membros da família, deve se ter em mente que Leishmania não pode ser transmitida por contato direto. Acariciar um cão doente não é um perigo. Contudo, os cães infectados mantidos sem qualquer medida de controle representam um reservatório para a infecção pelo flebótomo , e contribuem para o risco de infecção na área de alcance de voo desse vetor.
ARCA Brasil - Como consultor da OMS, qual sua sugestão para o grande desafio que é alinhar o avanço das pesquisas com políticas públicas modernas e realistas, onde o cão é, cada vez mais, um membro da família?
Luigi Gradoni – Após trabalhar com LV canina por mais de 30 anos, estou plenamente convencido de que animais são cada vez mais membros da família e matar todos os cães soropositivos para Leishmania é uma abordagem antiética e desnecessária. No entanto, para combater a política de eliminação, é necessário um grande esforço e uma abordagem sustentável de longo prazo. Por causa do grande número de cães afetados e dos recursos financeiros públicos limitados (da mesma forma que ocorre no sul da Europa!), a questão fundamental é a EDUCAÇÃO SANITÁRIA dos proprietários dos cães. É cientificamente comprovado que o apego ao animal de estimação e o conhecimento do risco de adquirir a doença estão significativamente associados com a vontade de adquirir, voluntariamente, ferramentas de prevenção à LV canina e, consequentemente, com a diminuição da prevalência da doença. (Am J Trop Med Hyg 87 (5), 2012, pp 822 - 831). Portanto, os proprietários devem estar conscientes da responsabilidade de cuidar de seus animais de estimação, a fim de prevenir e/ou curar a leishmaniose. A medida preventiva inclui a vacinação combinada com o uso de inseticidas tópicos com eficácia comprovada contra flebotomíneos (colar / spot-on formulações). Inseticidas tópicos são ainda mais necessários quando os cães forem diagnosticados como tendo VL, de modo a evitar a propagação de parasitas para os seres humanos e para os cães saudáveis. No que diz respeito ao tratamento, o uso de drogas anti-leishmania para tratar LV em humanos deve ser desencorajado, devido ao risco de desenvolver resistência à droga contra o parasita. É por isso que, como consultor da OMS, eu tenho considerado nas recomendações o uso de allopurinol, isoladamente, para o tratamento de cães infectado, já que não é utilizado em humanos. Tem sido demonstrado que o tratamento com allopurinol pode ser eficaz no controle da doença nos cães e na redução do potencial de infecção (Parasitas e Vetores 2011, 04:52).
Publicado na edição Nov/Dez 2013 da Revista Nosso Clínico
http://ocaonaoeovilao.org.br/blog.html
HOMENAGEM AO DR. FÁBIO NOGUEIRA
Veterinário empreendedor em Andradina, é mestre e doutor em veterinária, tem mais de 30 cursos de especialização e participou da pesquisa de lançamento da vacina contra leishmaniose visceral no Brasil.
O vereador Maurício Carneiro apresentou projeto de decreto legislativo para concessão de Título de Cidadão Andradinense, ao médico veterinário Fábio dos Santos Nogueira, proprietário de Clínica Veterinária Mundo Animal em Andradina.
Os vereadores aprovaram por unanimidade a indicação de Maurício que cumprimentou a todos pelo apoio. Carneiro disse que Fábio dos Santos Nogueira é uma das excelências da medicina veterinária da atualidade.
A homenagem, segundo o vereador, se deve ao fato do veterinário e pesquisador, mestre e doutor, formado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, ser natural de Pereira Barreto, mas ter escolhido Andradina para ser a cidade de moradia de sua família e dos investimentos pessoais e profissionais bem sucedidos. Doutor Fábio é casado com Candice Mariani, neta de saudoso ex-prefeito Augusto Mariani e integrante de tradicional e respeitada família andradinense.
Fábio é autor do Capítulo de Leishmaniose no livro sobre “Tratado de Medicina Interna de Pequenos Animais”, e está traduzindo um livro de autor argentino, também sobre o mesmo tema.Aliás, a leishmaniose mereceu muita atenção de Fábio dos Santos e através de suas pesquisas, o seu nome ficará eternamente marcado na história do saúde pública. Fábio participou no desenvolvimento da primeira vacina contra a leishmaniose visceral no Brasil.
Para o vereador Maurício Carneiro, a homenagem a Fábio Nogueira, tem a finalidade de sinalizar que é preciso valorizar os jovens pesquisadores e empreendedores que estão dedicando a fase mais produtiva de suas vidas, promovendo Andradina e valorizando sua gente.
http://www.hojemais.com.br/andradina/noticia/geral/camara-aprova-projeto-de-mauricio-carneiro-que-homenageia-dr-fabio-nogueira
Leishmaniose, ARCA Brasil inicia campanha de arrecadação pelo site Kickante
Leishmaniose, ARCA Brasil inicia campanha de arrecadação pelo site Kickante
A ONG ARCA Brasil, que desde 1993 se dedica a diversas frentes da causa animal, lança campanha de arrecadação pelo site de crowdfunding Kickante — seu intuito é dar fôlego a uma campanha que, sem qualquer apoio governamental, pode impedir a morte inútil de milhões de cães e poupar seres humanos de sofrimentos físicos e psicológicos
A ONG ARCA Brasil iniciou, em 2012, uma campanha inédita na história da proteção animal brasileira. Intitulada “Prevenção é a única solução”, a campanha foi construída sobre sólido embasamento técnico e investiu fortemente em diversas frentes de comunicação, com o intuito de mudar a forma cruel e arcaica como o Brasil tem combatido a Leishmaniose Visceral Canina (LVC) nos últimos 50 anos.
Inicialmente, a Campanha contou com o patrocínio de algumas empresas, e por meio dos recursos arrecadados pôde conduzir um intenso trabalho de conscientização, além de organizar e participar de foros técnicos da mais alta qualidade, essenciais para transformar o modo como o Brasil lida com a questão da Leishmaniose.
Por falta de recursos e patrocínios, esse importante trabalho estava correndo o risco de chegar ao fim. Por meio do site de crowdfunding Kickante, a ONG busca recursos para os próximos passos, colocando fim à matança questionável e cruel.
Compreenda melhor o trabalho da ARCA Brasil nesta campanha específica:
O que é a Leishmaniose Visceral Canina?
É uma doença grave, que pode levar à morte. Afeta cães e seres humanos. Seu vetor é um mosquito conhecido popularmente como Cangalhinha ou Birigui. O cão funciona como um “depositário” do leishmania, que é o protozoário causador da doença. Se o mosquito picar o cão, e em seguida, picar uma pessoa, esta poderá ser infectada e contrair a doença.
Como o Brasil combate a doença?
Há 50 anos, o País não evolui na sua maneira de combater a doença. Sua ação se limita a eliminar os cães supostamente portadores do leishmania. Esse método já foi criticado pela Organização Mundial de saúde (OMS): em 2010, o Comitê de Experts em Leishmaniose da OMS concluiu que a eliminação de cães não é eficaz para o controle da doença e citou o Brasil como exemplo de que essa política não funciona, uma vez que essa zoonose aumenta progressivamente no País.
O que deveria ser feito?
Prevenir. Hoje, existe pelo menos uma vacina preventiva, de eficácia comprovada, além de repelentes que permitem manter o mosquito vetor longe dos cães — e dos seres humanos — e medicamentos utilizados em diversos países para o tratamento da leishmaniose. Mesmo assim, as autoridades públicas de saúde procedem da mesma forma há 50 anos — e cometem erros graves!
Que tipos de erros?
Estudo realizado em Belo Horizonte (MG), onde houve um surto de leishmaniose na década passada, confirmou: de 15 mil amostras recolhidas de cães mortos pelo Poder Público por suspeita da doença, cerca de 80% do total eram falsos positivos. Ou seja: quase 13 mil cães foram mortos de maneira totalmente inútil — e mesmo aqueles que eram positivos de verdade poderiam ter sido tratados! Os pesquisadores Alves e Beviláqua (2004), ao analisarem o inquérito epidemiológico em Belo Horizonte entre 1993-1997, concluíram: problemas de especificidade do exame diagnóstico empregado (RIFI) fizeram com que uma alta percentagem de animais fosse identificada erroneamente como portadora de LVC.
“Verificamos que dos 400.556 animais diagnosticados como negativos, 2003 seriam, na verdade, falsos negativos, e dentre os 15.117 positivos, 12.925 seriam falsos positivos. (…) corroborando as suspeitas levantadas pelos clínicos veterinários de pequenos animais.”. (Alves e Beviláqua, 2004, p. 261)
Por que a doença se espalha?
O mosquito prolifera em material orgânico em decomposição. Sem limpeza pública eficaz, ele encontra o meio ideal para se reproduzir. O mesmo ocorre em ambientes privados nos quais a sujeira se acumula. Além disso, o desmatamento “expulsa” o mosquito das matas, fazendo-o migrar para meio urbano. Em Goiânia, houve aumento nos casos de leishmaniose em condomínios de alto padrão erguidos em áreas recém-desmatadas.
Por que a eliminação de cães não funciona?
Em primeiro lugar, salta aos olhos o aumento da incidência da doença em território brasileiro: de 1.944 casos em 1990, saltamos para 3.526 em 2010.
Em segundo lugar, o Brasil está na contramão do mundo: em todos os países atingidos pela doença, é permitido o tratamento. O Brasil é o único que impõe a morte. “Não se pode mais admitir políticas públicas que não estejam fundamentadas em evidências científicas”, afirma o Dr. Carlos Henrique Nery, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, contrário à eliminação dos cães como política de combate à doença.
Em terceiro lugar, os direitos do indivíduo que é guardião de um animal soropositivo devem ser respeitados. Ele deve ser livre para providenciar exames que confirmem a infecção, com a devida orientação médico-veterinária.
Em quarto lugar, existe o famoso “enxugar gelo”: o Poder Público pratica a eutanásia de cães e as pessoas adotam outros — em geral filhotes, mais suscetíveis a diversas doenças. Por falta de orientação, o animal recém-adquirido é colocado no mesmo espaço, muito possivelmente sem o controle do mosquito transmissor ou de medidas profiláticas.
Finalmente, trabalhos científicos demonstram que não há correlação entre a presença de animais portadores de leishmaniose em uma casa e a infecção dos habitantes. Ou seja: cientificamente, não há risco significativo de se ter um cão portador em casa e deste animal transmitir a doença para um morador.
O que a ARCA Brasil realizou até agora, no âmbito de combate à Leishmaniose?
A ARCA vem investindo em três frentes: fundamentação técnica, comunicação de massa e maior envolvimento da sociedade com essa questão. Sua campanha “Prevenção é a única solução” leva à sociedade a compreensão de que o cão não é o causador do problema, e sim mais uma vítima.
Ações conduzidas até agora:
- Ampla campanha de conscientização em diferentes veículos de comunicação e redes sociais, por meio da Campanha “Prevenção é a única solução”. Seu mote foi “O cão não é o vilão” — de forma simples e direta, a frase sintetiza a essência da campanha.
- Recolhimento de 30 mil assinaturas em um abaixo-assinado que pleiteia a reforma da política de captura e extermínio.
- Mobilização de artistas e formadores de opinião: Arnaldo Antunes, Cleo Pires, Doda Miranda, Ellen Jabour, Fafá de Belém, Fernanda Tavares, Paulo Tatit e Sandra Peres (Palavra Cantada), Nasi e Thaila Ayala são algumas das celebridades que emprestaram seu rosto e sua credibilidade para a causa, literalmente “vestindo a camisa” da campanha em anúncios, sites e demais materiais informativos produzidos especialmente para este trabalho.
- Parceria com a Brasileish, associação de caráter científico, formada por especialistas e dedicada à pesquisa e orientação ao manejo clínico de Leishmaniose em animais na Medicina Veterinária do Brasil.
- Realização do 4º Seminário ARCA Brasil, em 2013. Com a presença de clínicos veterinários, estudantes, professores e funcionários dos CCZs da Grande São Paulo. Especialistas falaram sobre a prevenção da doença e participaram da mesa-redonda “Programa de Combate à Leishmaniose Visceral Canina no Brasil: Revisão Já!”, que elencou medidas de controle da doença de caráter preventivo, humanitário e tecnicamente eficaz.
- Participação no Congresso Mundial – Worldleish. Este evento é o maior encontro mundial sobre Leishmaniose e ocorre a cada quatro anos em um país endêmico. O Brasil foi escolhido para sediar o Worldleish5 (quinta edição) em 2013, por possuir a maior comunidade científica no estudo do problema e também por apresentar a maior incidência de casos da doença nas Américas, com um alarmante número de focos urbanos. Foram recebidos mais de 1300 trabalhos científicos sobre o tema, um recorde em relação às edições anteriores.
- Bimestralmente, a ARCA Brasil publica matéria informativa, de duas páginas, sobre Leishmaniose. Os textos, fundamentados por especialistas renomados, são veiculados pela Revista Nosso Clínico, uma das publicações mais lidas entre os médicos veterinários brasileiros.
Há resultados concretos?
Sim. Em primeiro lugar, este grave problema se tornou mais conhecido. Porém, o fundamental é que já se nota uma flexibilização das autoridades na abordagem do tema. É cada vez mais difícil sustentar essa política equivocada — e a pressão social é indispensável para transformar a realidade. Órgãos de saúde já acionaram técnicos para fazer testes-piloto de drogas para o tratamento da doença em cães e para a implantação de métodos preventivos.
Próximos passos:
- Intensificar o trabalho de conscientização.
- Fomentar a criação de centros de referência regionais, responsáveis por coordenar e monitorar o controle via prevenção.
- Manter a Campanha viva até que as autoridades públicas de saúde substituam a eliminação dos cães pelas medidas de tratamento e prevenção.
Campanha de arrecadação: www.kickante.com.br/arcabrasil