No primeiro ano em que se celebra a Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose (6 a 10 de agosto), vieram à tona ações educativas e preventivas e debates sobre as políticas públicas de vigilância e controle da doença.
O parasita da leishmaniose é transmitido ao homem por insetos vetores conhecidos como “mosquito-palha”, que, ao picar um mamífero para se alimentar de seu sangue, injeta nele o protozoário na forma promastigota (com um flagelo longo). Para combater o parasita, o organismo humano e de outros mamíferos infectados recrutam células de defesa do sangue, conhecidas como macrófagos, para interceptá-los. Porém, o protozoário consegue se multiplicar no interior dos macrófagos.
Ao romper, os macrófagos liberam essas células na forma amastigota (sem flagelo), que migram pelo corpo humano ou do animal à procura de um tecido onde possam se multiplicar e se estabelecer. E, ao picar um humano ou animal infectado, o mosquito se infecta pelo parasita, fechando o ciclo da doença.
A leishmaniose não é contagiosa nem se transmite diretamente de uma pessoa para outra, nem de um animal para outro, nem dos animais para as pessoas. A transmissão do parasita ocorre através da picada do mosquito fêmea infectado. Na maioria dos casos, o período de incubação é de 2 a 4 meses, mas pode variar de 10 dias a 24 meses.
Leishmaniose Visceral Canil (LVC)
Dos 35,7 milhões de cães “brasileiros”, em torno de 5% apresentam sorologia reagente para leishmaniose nas áreas endêmicas. Diferentemente de países como Portugal e Espanha, onde o tratamento é eficiente, aqui a doença segue sem tratamento e o procedimento recomendado pelo Ministério da Saúde é a eutanásia.
Carlos Henrique Nery Costa reage à medida, uma vez que ainda não foi descoberta uma forma eficaz de combater a doença. Mas uma coisa é certa: não é matando cães. “Pelos meus anos de estudo, estou convencido de que a matança de animais não reduz o risco para as pessoas, nem impede a disseminação da doença. É absurdo e cruel matar cães, pois não existem evidências científicas apoiando esta medida, a qual me oponho vigorosamente. Meu sonho é, sim, a descoberta de uma vacina para humanos”, afirma o especialista.
Dr. Carlos Henrique e Maria Luiza Nunes, do MGDA, com a equipe de veterinários da SEDA: Marcelo Páscoa, Rejane Werwnicz, Kátia Lima e Alexandre Costa
Em 2010 a Organização Panamericana de Saúde publicou uma síntese do conhecimento sobre o assunto mostrando a ineficácia da eutanásia. Além disso, o Código Sanitário Internacional, do qual o Brasil é signatário, exige que toda medida de saúde pública deve ter evidências científicas em seu favor. “Existem fatos muito graves, que são as lições de ignorância e de violência institucionais. Lição da irrelevância do conhecimento científico, de falsidades tomadas como verdades pela mídia, de indiferença às opiniões não oficiais e de banalização da morte, neste caso, de seres inteligentes, sensíveis e amados. Assim, o Brasil comporta-se de forma primitiva e brutal, muito longe das características da nação civilizada e desenvolvida que, um dia, nós, brasileiros, almejamos ser”, desabafa o especialista.
Do ponto de vista epidemiológico, a Leishmaniose canina é considerada mais importante que a doença humana, pois, além de ser mais prevalente, apresenta grande contingente de animais infectados com parasitismo cutâneo, sintomáticos, assintomáticos ou oligossintomáticos, que servem como fonte de infecção para os insetos vetores, sendo um importante elo na transmissão da doença para o homem.
Existem atualmente duas vacinas anti-leishmaniose visceral disponíveis no mercado: Leishmune e a Leish-Tec. Embora tenham registros de comercialização autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), os testes para determinar a segurança, a eficácia, a inocuidade, a proteção, a infecção e a imunicidade destas vacinas ainda não foram concluídos. As empresas produtoras destas vacinas possuem registro provisório e prazo estipulado de 36 meses, a partir da data de publicação da Instrução Normativa Interministerial nº 31 (MAPA e Ministério da Saúde).
Sintomas da leishmaniose
Os principais sintomas da Leishmaniose Visceral são febre intermitente com semanas de duração, fraqueza, perda de apetite, emagrecimento, anemia, palidez, aumento do baço e do fígado, comprometimento da medula óssea, problemas respiratórios, diarreia, sangramentos na boca e nos intestinos.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações que podem pôr em risco a vida do paciente. Além dos sinais clínicos, existem exames laboratoriais para confirmar o diagnóstico. Entre eles destacam-se os testes sorológicos (Elisa e reação de imunofluorescência), e de punção da medula óssea para detectar a presença do parasita e de anticorpos.
É de extrema importância estabelecer o diagnóstico diferencial, porque os sintomas da leishmaniose visceral são muito parecidos com os da malária, esquistossomose, doença de Chagas, febre tifóide, etc.
Tratamento
Ainda não foi desenvolvida uma vacina contra a Leishmaniose Visceral, que pode ser curada nos homens, mas não nos animais. Os antimoniais pentavalentes, por via endovenosa, são as drogas mais indicadas para o tratamento da Leishmaniose, apesar dos efeitos colaterais adversos.
Em segundo lugar, está a anfotericina B, cujo inconveniente maior é o alto preço do medicamento. Uma nova droga, a miltefosina, por via oral, tem-se mostrado eficaz no tratamento dessa moléstia.
A regressão dos sintomas é sinal de que a doença foi pelo menos controlada, uma vez que pode recidivar até seis meses depois de terminado o tratamento.
Recomendações
Mantenha a casa limpa e o pátio livre dos criadores de insetos. O "mosquito-palha" vive nas proximidades das residências, preferencialmente em lugares úmidos, mais escuros e com acúmulo de material orgânico. Ataca nas primeiras horas do dia ou ao entardecer;
Coloque telas nas janelas e embale sempre o lixo;
Cuide bem da saúde do seu cão. Ele pode se transformar num reservatório doméstico do parasita, que será transmitido para as pessoas próximas e outros animais;
Lembre-se de que os casos de Leishmaniose são de comunicação compulsória ao serviço oficial de saúde.
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